Quando eu era criança achava que
ter coragem era descer no tobogã ou ir ao parque rodar numa roda gigante. Toda
noite antes de dormir, olhava debaixo da cama pra conferir se havia algum ‘’
bicho papão ‘’. Há um tempo quando fui pra Salvador, achei que subir ou descer no
Elevador Lacerda também pudesse ser um ato de coragem... ou viajar sozinha mais
ainda. A conclusão que tinha de coragem seria o bom relacionamento dela com a adrenalina.
Mas o emaranhado é muito mais complexo.
Complicar aperfeiçoa a criatividade, a crueza do pensamento cria cores e coisas
espalhando confusões no nosso chão. Mas
é tão simples, embora nada fácil. Pesar na balança o que te faz bem e o que te
faz mal, excluir da vida o que não preenche mais. Muita coisa não
controlamos nessa vida. Aí me lembro da
história de um camponês que estava sentado na varanda de casa, à toa. Um amigo
aparece para cumprimenta-lo e ouve um som, um ganido agudo e prolongado vindo
de dentro de casa. E ele pergunta para o amigo “ Que som pavoroso é esse ? “. E
o camponês responde: “ É o meu cachorro que está sentado num prego. “ Então o
amigo pergunta: “ por que ele não se levanta e sai dali ? “ O camponês pensa e
diz: “ Porque ainda não dói o suficiente. “
Então o ensino disso, é que travamos
nossas batalhas diária, pelo medo de
começar tudo novamente. Do zero. Tem muita mulher que sofre maus tratos de seu
companheiro e mesmo assim permanece em seu “lar.” Colaborador que aguenta
humilhação de seu patrão com medo de
abandonar o emprego e não conseguir outro. O fracasso em alguma situação faz-se
o medo de tentar novamente. Ainda hoje não
superei meu medo de altura, chego até passar mal. E de dirigir, penso que a
qualquer momento vou sofrer um acidente sem a menor chance de escapar viva.
Alguns medos reais, outros imaginários... é dentro onde tudo acontece... mas
esquecemos de nossa coragem, porque toda escolha requer a ousadia.
Keila Cristina
28.03.2018