Já passaram algumas horas, e chega a madrugada. Ele continua sentado no chão encostado na parede. Retira de dentro da mochila o trompete e toca “Forever in love”. Mesmo sabendo que essa
atitude não lhe traria nenhuma coragem para sair dali. Pelo contrário, só viria
mais emaranhado de lembranças esperançosas e consequentemente continuaria ali
paralisado e esperando.
Mais adiante meio que em desespero, uma mulher passa correndo
na sua frente. Ela havia perdido o trem para voltar pra sua casa. O próximo só
às seis horas. Mas esperar amanhecer o dia pra pegar o próximo trem pudera ser tarde demais.
Enquanto para ele ficar ali era preferível, para ela era o
fim.
Ela havia escrito uma carta pro seu esposo pondo um fim no
casamento, porque sabia de todas as traições e queria ali colocar um basta.
Quando ele retornasse de viagem encontraria a carta. Mas, estava arrependida do
que tinha feito e queria pegar a carta antes de ele voltar, colocariam uma
pedra nisso tudo e as coisas voltariam ao normal.
Ele perdeu o amor de sua vida, no dia em que comprou um anel de noivado. Ela havia
recebido uma proposta de trabalho em outra cidade, e preferiu seguir sozinha.
Pensar na saudade era a tristeza de sentir o que não lhe
cabia mais. E agora eles sentem a mistura da angustia do passado e presente. E
temem o futuro. As horas passam, a esperança se afasta mais um pouco. Aceitar
os fatos e ver a própria imagem é doloroso e dar adeus deveria não doer tanto.
Não tinha como remendar o que havia acontecido, mas a condição
possibilita a existência de algo e a liberdade de escolha na construção do ser.
Naquela madrugada, conversaram sobre suas dores e aflições.
Alguns momentos ele toca, ela canta e juntos riem, para distraírem a solidão, seus
medos e preocupação. A sensibilidade era algo que eles tinham em comum.
A ideia de sair dali e enfrentar torna-se assustador demais e essa
forma de olhar congela todo o resto. Mas, não há mais nada a fazer senão
aceitar os fatos e encarar. O dia amanhece, ele coloca o trompete dentro da
mochila, aperta a mão dela na intensão de passar algum conforto. O trem chega, trocam
olhares como forma de despedida e ela o abraça forte até o momento de embarcar.
Texto: Keila Cristina
19/06/2017
Texto inspirado no filme Before
We Go com Chris Evans e Alice Eve ( pra
quem tiver interesse em assistir ).
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