segunda-feira, 19 de junho de 2017

Antes de irmos




Já passaram algumas horas, e chega a madrugada. Ele continua sentado no chão encostado na parede. Retira de dentro da mochila o trompete  e toca “Forever in love”. Mesmo sabendo que essa atitude não lhe traria nenhuma coragem para sair dali. Pelo contrário, só viria mais emaranhado de lembranças esperançosas e consequentemente continuaria ali paralisado e esperando.

Mais adiante meio que em desespero, uma mulher passa correndo na sua frente. Ela havia perdido o trem para voltar pra sua casa. O próximo só às seis horas. Mas esperar amanhecer o dia pra pegar  o próximo trem pudera  ser tarde demais.

Enquanto para ele ficar ali era preferível, para ela era o fim.

Ela havia escrito uma carta pro seu esposo pondo um fim no casamento, porque sabia de todas as traições e queria ali colocar um basta. Quando ele retornasse de viagem encontraria a carta. Mas, estava arrependida do que tinha feito e queria pegar a carta antes de ele voltar, colocariam uma pedra nisso tudo e as coisas voltariam ao normal.

Ele perdeu o amor de sua vida, no dia em que  comprou um anel de noivado. Ela havia recebido uma proposta de trabalho em outra cidade, e preferiu  seguir sozinha.

Pensar na saudade era a tristeza de sentir o que não lhe cabia mais. E agora eles sentem a mistura da angustia do passado e presente. E temem o futuro. As horas passam, a esperança se afasta mais um pouco. Aceitar os fatos e ver a própria imagem é doloroso e  dar adeus deveria não doer tanto.

Não tinha como remendar o que havia acontecido, mas a condição possibilita a existência de algo e a liberdade de escolha na construção do ser.

Naquela madrugada, conversaram sobre suas dores e aflições. Alguns momentos ele toca, ela canta e juntos riem, para distraírem a solidão, seus medos e preocupação. A sensibilidade era algo que eles tinham em comum.

A ideia de sair dali e enfrentar torna-se assustador demais e essa forma de olhar congela todo o resto. Mas, não há mais nada a fazer senão aceitar os fatos e encarar. O dia amanhece, ele coloca o trompete dentro da mochila, aperta a mão dela na intensão de passar algum conforto. O trem chega, trocam olhares como forma de despedida e ela o abraça forte até o momento de embarcar.


Texto: Keila Cristina
19/06/2017

Texto inspirado no filme Before We Go com Chris Evans e Alice Eve  ( pra quem tiver interesse em assistir ).



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