Sorria pelo dia de sol ou chuva e pelas flores que brotavam
em seu jardim. O céu estava sempre azul mesmo em dias cinza. Soninha sempre alegre e intensa. Não tem religião
mas tem um coração gigante. Fala sobre todos outros assuntos e dizia
sempre que o requisito era amar em todos
os detalhes. Mas, não teve sorte no amor e educou seus quatro filhos sozinha.
Nunca à vi reclamar de nada e sua disposição e bom humor causava admiração e
inveja nas outras pessoas.
Quando eu chegava em sua casa, sempre me cobrava um abraço. Arqueei as sombracelhas e disse que num queria abraçar, e gritei: “ Vamos Maiana, estamos
atrasadas “. Maiana é sua filha mais nova, e estávamos atrasadas pra aula de
natação, no Sesc, há três quadras dali.
Mas ela não se importava com o que eu dizia , e completava. “
Abraço é sempre bom e ajuda a remar com mais força “. E me abraçava mesmo eu
não à abraçando, porque ela sabia da dificuldade que eu tinha em abraçar. E
minha pouca idade ainda não me deixava compreender esse remar. Mas ela
conseguia entender os meus sentimentos e pensamentos.
Ela me dizia que ao resolver tudo que tinha pra resolver, iria
embora. E quando isso acontecesse sentiria minha falta.
Poderia morar em qualquer lugar que quisesse e Soninha
havia escolhido a Índia. Lembro que estava sempre arrodeada de pessoas, ou no
telefone. Trabalhava muito, seus compromissos eram intensos. No retorno de uma
de suas viagens me trouxe Mar Absoluto, da Cecília Meireles. Foi um dos meus
primeiros livros.
A passagem de Soninha na cidade foi rápida. Ficou apenas um
ano e isso foi profundo. Ela sabia evidenciar seu lado luz.Benfazeja.
Antes
de ir embora, me esperou pra se despedir mas eu não apareci, porque eu sabia se
fosse iria chorar. E eu não queria
chorar.
Depois de tanto tempo, pra minha surpresa, hoje ela me ligou.
E disse coisas boas de se ouvir; Perguntou
como eu estava. Falou que era ainda
minha segunda mãe e amiga também.
Aí deu um nó na garganta, sabe. Me senti especial. E vi que a distância
não diminuiu a importância e isso é gratificante. Ter uma mãe já é bom, imagine
duas.
Hoje ela é humanista ! Queria saber como Deus à convenceu de
uma missão tão nobre, já que não acredita na sua existência. Sua mãe sabia porque
escolheu esse nome, Sonia, que quer dizer, “ Sabedoria Divina” .
Ela não usa rede social, casou com o mundo e morou em vários lugares. Hoje
está na África do Sul. Disse que lá é
lindo e desenvolve um trabalho e não
sabe por quanto tempo vai ficar. Mas
quando retornar pra casa, na Noruega, quer que eu vá visita-la. Admiro a sua
interação com a liberdade, determinação e a facilidade de sentir-se em casa
aonde chega.
Localizei no tempo quando a gente se conheceu. Maiana e eu estávamos na
praça Padre Cícero quando voltávamos da natação, e tomávamos sorvetes daqueles coloridos
pela quantidade absurda de anilina e eram vendidos no copinho descartável, mas
que gostávamos muito rsrs. Ela voltava de um magazine, tinha ido comprar algo e
ali nos conhecemos. Lembrei também do cheiro de seu cabelo quando me abraçava e
de suas histórias inventadas só pra ver a gente gargalhando. Ele adorava estar
arrodiada de adolescentes !
É tão intenso sentir esse hiato da saudade... Cada um no seu caminho, e quando o caminho
muda a sua história também muda. Cada
experiência agrega valores e virtudes que aperfeiçoa o ser. A vida
é o melhor mestre!
Keila Cristina
27 de Outubro de 2017
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